Por Israel Guedes
Primeiro de tudo... Mulher Maravilha foi a melhor coisa do
filme. Então, se é fã dela, ganhou seu dia.
Este texto contém spoilers bem leves, para quem já viu todos os trailers, então pode ler sem tanto medo que sua diversão não será estragada.
Este texto contém spoilers bem leves, para quem já viu todos os trailers, então pode ler sem tanto medo que sua diversão não será estragada.
Em Batman Vs Superman - A Origem da Justiça somos apresentados a um Batman mais velho (Ben
Affleck) que aparentemente estava aposentado de sua posição como vigilante de
Gotham (o filme não deixa claro), e, durante os eventos finais do filme O Homem
de Aço, presencia a morte de pessoas queridas e de inocentes, e culpa fortemente
Superman (Henry Cavvil) por tudo. Isso o motiva a buscar meios de se desfazer
do Filho de Krypton, e sua melhor arma para tal está na posse de Lex Luthor (Jesse
Eisenberg), cientista também muito interessado em livrar o mundo dessas duas
ameaças.
A estrutura do filme é falha. O começo é muito arrastado,
demora muito para a coisa engrenar. Sim, é preciso apresentar o Batman, o
(muito afetado) Lex Luthor, A Mulher Maravilha (Gal Gadot), os motivos da briga... mas não
precisava ser tudo tão parado. O meio (que já deveria ser o final) é breve, e o
final (que deveria ser mais curto), se alonga tanto que toda vez que parece que
o filme vai acabar, você descobre que ainda tem mais uma cena.
O Batman acabou sendo uma decepção. Não que ele seja
horrível, mas o personagem não consegue ganhar a simpatia do público, você pode
torcer para ele porque você conhece o personagem, mas não porque a construção
dele neste filme foi bem feita e fez com que você se apegasse ao herói. E Ben Affleck
não contribui nem um pouco, pois não consegue variar nas emoções que passa(?),
sendo que o ponto mais alto de sua atuação foi no início do filme, preocupado
com as pessoas que estavam em perigo por causa da luta de Superman com Zod.
Este Batman é todo sofrido e amargurado sim, mas isso não foi feito de uma forma
que cative o público.
Superman tem um arco mais interessante, sofrendo preconceito
por sua origem e falhando em salvar a todos, porém, tal premissa não é
explorada da forma merecida, devido à falta de foco do filme. Uma cena muito
interessante que vale a pena destacar é o momento em que não consegue impedir
um atentado porque não viu uma bomba escondida com uma das pessoas próximas a
ele ali e diz “eu não olhei para ele. Desde o começo... eu nunca olhei para
eles”, mostrando muito bem o conflito de um personagem que começa a se
questionar e perceber suas falhas como suposto salvador, e humanizando bem sua
figura. Mas, infelizmente o filme acaba deixando isto de lado e se foca nos
confrontos, embora finalize bem a trama do Superman com um ato de redenção.
A inclusão dos demais heróis na trama foi bem sacada e satisfatória.
Não é necessário um filme de origem para cada um, dá para fugir dessa fórmula.
O Lex Luthor foi razoável, nem tão ruim, nem tão bom. Apesar
de faltar certo motivo para fundamentar suas ações. Embora parta dele as
interessantes associações divinas e demoníacas acerca dos dois maiores heróis
da DC. Infelizmente em vários pontos acaba exagerando nisso e em nada tais
cenas acrescentam à trama.
Para um filme que se vende como Batman vs Superman, teve
pouco Batman vs Superman. Gasta-se muito tempo criando expectativa para a
porrada, e quando ela chega, parece que não deu tudo o que tinha que dar. A
impressão que fica é que não era o verdadeiro foco do filme, e sim a batalha
contra o Apocalypse no final, que deveria ser o epílogo, mas é erroneamente
longa demais e exagerada. Até mesmo o conflito ideológico não é bem explorado,
ambos os heróis não debatem em momento algum, apenas se batem toda vez que se
encontram.
A luta em sim é boa, mas algo horrível foi resolver o confronto
por uma coincidência (bem forçada), não tendo nenhuma base ideológica
determinante nisto. E após tal coincidência Batman já se chamava até de amigo
do Superman. A mudança súbita ficou muito estranha e deslocada, pois há um
minuto estavam querendo se matar. Tudo bem se ajudarem, mas forçam a barrar ao
quase transformá-los em best friends.
Pelo menos foi reconfortante ver que a luta em si teve um “vencedor”.
Pois os trailers sugeriam que o confronto seria interrompido no meio pela
verdadeira ameaça do filme.
Há uma carência de melhor desenvolvimento dos motivos de
cada personagem no filme. Eles são mostrados, mas não desenvolvidos de forma a
evoluírem para um conflito inevitável, mas sim que são usados como desculpa
para um conflito que já estava marcado para acontecer e precisava de uma
desculpa para se desenrolar.
O diretor Zack Snyder realmente não consegue se segurar,
fato que ficava claro no clímax de O Homem de Aço. Aqui ele se solta ainda
mais, com uma enxurrada de efeitos de explosões, jatos de energia, impactos
luminosos, poluindo as cenas sem preocupação. Pelo menos a trilha sonora de
Hans Zimmer é boa e empolga.
O final foi inesperadamente bom e corajoso, uma grande
homenagem a uma história clássica dos quadrinhos que deve pegar muitos de surpresa.
Podem tentar defender Zack Snyder dizendo que tem tantos
elementos no filme que era impossível dar o foco devido em tudo. Mas por que então
se perde bastante tempo com inutilidades? As diversas cenas de pesadelo de
Batman (que vão ficando cada vez mais prolongadas), a perseguição de Batman ao
caminhão que transportava a Kryptonita, a visão que Clark tem de seu pai humano, a invasão de Batman ao esconderijo dos
capangas de Lex Luthor, a luta contra Apocalypse. São todas sequências longas
que DEVERIAM ser resumidas para que se desse atenção ao que realmente importa:
Construção do Batman, conflito do Superman e o Embate de ambos.
O filme tenta humanizar a figura dos super-heróis, mostrando
que podem perder de vista o que é importante, falhar em ajudar as pessoas e
serem os causadores de problemas mesmo quando querem ajudar; apresenta bem o
contexto dos demais heróis da futura Liga da Justiça; entrega uma ótima Mulher
Maravilha e um interessante arco de personagem para o Superman, mas acaba
comprometendo tudo por sua ineficiência em controlar tantos elementos e decidir
em quê dar foco.
Pelo menos diverte.