quinta-feira, 24 de março de 2016

Quando Falta Batman vs Superman em Batman vs Superman

Por Israel Guedes


Primeiro de tudo... Mulher Maravilha foi a melhor coisa do filme. Então, se é fã dela, ganhou seu dia.

Este texto contém spoilers bem leves, para quem já viu todos os trailers, então pode ler sem tanto medo que sua diversão não será estragada.

Em Batman Vs Superman - A Origem da Justiça somos apresentados a um Batman mais velho (Ben Affleck) que aparentemente estava aposentado de sua posição como vigilante de Gotham (o filme não deixa claro), e, durante os eventos finais do filme O Homem de Aço, presencia a morte de pessoas queridas e de inocentes, e culpa fortemente Superman (Henry Cavvil) por tudo. Isso o motiva a buscar meios de se desfazer do Filho de Krypton, e sua melhor arma para tal está na posse de Lex Luthor (Jesse Eisenberg), cientista também muito interessado em livrar o mundo dessas duas ameaças.

A estrutura do filme é falha. O começo é muito arrastado, demora muito para a coisa engrenar. Sim, é preciso apresentar o Batman, o (muito afetado) Lex Luthor, A Mulher Maravilha (Gal Gadot), os motivos da briga... mas não precisava ser tudo tão parado. O meio (que já deveria ser o final) é breve, e o final (que deveria ser mais curto), se alonga tanto que toda vez que parece que o filme vai acabar, você descobre que ainda tem mais uma cena.


O Batman acabou sendo uma decepção. Não que ele seja horrível, mas o personagem não consegue ganhar a simpatia do público, você pode torcer para ele porque você conhece o personagem, mas não porque a construção dele neste filme foi bem feita e fez com que você se apegasse ao herói. E Ben Affleck não contribui nem um pouco, pois não consegue variar nas emoções que passa(?), sendo que o ponto mais alto de sua atuação foi no início do filme, preocupado com as pessoas que estavam em perigo por causa da luta de Superman com Zod. Este Batman é todo sofrido e amargurado sim, mas isso não foi feito de uma forma que cative o público.


Superman tem um arco mais interessante, sofrendo preconceito por sua origem e falhando em salvar a todos, porém, tal premissa não é explorada da forma merecida, devido à falta de foco do filme. Uma cena muito interessante que vale a pena destacar é o momento em que não consegue impedir um atentado porque não viu uma bomba escondida com uma das pessoas próximas a ele ali e diz “eu não olhei para ele. Desde o começo... eu nunca olhei para eles”, mostrando muito bem o conflito de um personagem que começa a se questionar e perceber suas falhas como suposto salvador, e humanizando bem sua figura. Mas, infelizmente o filme acaba deixando isto de lado e se foca nos confrontos, embora finalize bem a trama do Superman com um ato de redenção.

A inclusão dos demais heróis na trama foi bem sacada e satisfatória. Não é necessário um filme de origem para cada um, dá para fugir dessa fórmula.

O Lex Luthor foi razoável, nem tão ruim, nem tão bom. Apesar de faltar certo motivo para fundamentar suas ações. Embora parta dele as interessantes associações divinas e demoníacas acerca dos dois maiores heróis da DC. Infelizmente em vários pontos acaba exagerando nisso e em nada tais cenas acrescentam à trama.


Para um filme que se vende como Batman vs Superman, teve pouco Batman vs Superman. Gasta-se muito tempo criando expectativa para a porrada, e quando ela chega, parece que não deu tudo o que tinha que dar. A impressão que fica é que não era o verdadeiro foco do filme, e sim a batalha contra o Apocalypse no final, que deveria ser o epílogo, mas é erroneamente longa demais e exagerada. Até mesmo o conflito ideológico não é bem explorado, ambos os heróis não debatem em momento algum, apenas se batem toda vez que se encontram.

A luta em sim é boa, mas algo horrível foi resolver o confronto por uma coincidência (bem forçada), não tendo nenhuma base ideológica determinante nisto. E após tal coincidência Batman já se chamava até de amigo do Superman. A mudança súbita ficou muito estranha e deslocada, pois há um minuto estavam querendo se matar. Tudo bem se ajudarem, mas forçam a barrar ao quase transformá-los em best friends.

Pelo menos foi reconfortante ver que a luta em si teve um “vencedor”. Pois os trailers sugeriam que o confronto seria interrompido no meio pela verdadeira ameaça do filme.


Há uma carência de melhor desenvolvimento dos motivos de cada personagem no filme. Eles são mostrados, mas não desenvolvidos de forma a evoluírem para um conflito inevitável, mas sim que são usados como desculpa para um conflito que já estava marcado para acontecer e precisava de uma desculpa para se desenrolar.

O diretor Zack Snyder realmente não consegue se segurar, fato que ficava claro no clímax de O Homem de Aço. Aqui ele se solta ainda mais, com uma enxurrada de efeitos de explosões, jatos de energia, impactos luminosos, poluindo as cenas sem preocupação. Pelo menos a trilha sonora de Hans Zimmer é boa e empolga.

O final foi inesperadamente bom e corajoso, uma grande homenagem a uma história clássica dos quadrinhos que deve pegar muitos de surpresa.

Podem tentar defender Zack Snyder dizendo que tem tantos elementos no filme que era impossível dar o foco devido em tudo. Mas por que então se perde bastante tempo com inutilidades? As diversas cenas de pesadelo de Batman (que vão ficando cada vez mais prolongadas), a perseguição de Batman ao caminhão que transportava a Kryptonita, a visão que Clark tem de seu pai humano, a invasão de Batman ao esconderijo dos capangas de Lex Luthor, a luta contra Apocalypse. São todas sequências longas que DEVERIAM ser resumidas para que se desse atenção ao que realmente importa: Construção do Batman, conflito do Superman e o Embate de ambos.


O filme tenta humanizar a figura dos super-heróis, mostrando que podem perder de vista o que é importante, falhar em ajudar as pessoas e serem os causadores de problemas mesmo quando querem ajudar; apresenta bem o contexto dos demais heróis da futura Liga da Justiça; entrega uma ótima Mulher Maravilha e um interessante arco de personagem para o Superman, mas acaba comprometendo tudo por sua ineficiência em controlar tantos elementos e decidir em quê dar foco.

Pelo menos diverte.


segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Como Jogos Vorazes: A Esperança - O Final poderia ter sido


Por Israel Guedes

A nação de Panem está vivendo uma guerra em grande escala, mas com todos os distritos unidos, Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) parte para o ataque decisivo contra o presidente Snow (Donald Sutherland), acompanhada de seus amigos Gale (Liam Hemsworth), Finnick (Sam Claflin), um perturbado Peeta (Josh Hutcherson) e habitantes do Distrito 13, enfrentando todas as armadilhas que Snow colocou em seu caminho para dar início à maior e mais perigosa edição dos Jogos Vorazes.

Enquanto este texto era escrito, a internet era inundada de várias críticas de pessoas (aparentemente fãs dos livros) que consideraram este último filme o melhor de todos. Uma delas inclusive afirmou que é o melhor justamente por ser incrivelmente fiel ao material original.
Mas será que isso é bom? Sempre ser muito fiel ao original? São mídias diferentes. Ás vezes o que funciona no livro não funciona no filme. Fique com a análise de alguém que não leu o último livro, apenas os dois primeiros, mas talvez isso tenha possibilitado ter um olhar mais imparcial sobre o material. E sim, HAVERÁ SPOILERS.
Primeiramente, não é possível considerar este filme o melhor, mas sim exatamente o contrário, o pior filme de todos (Lembrando que aqui estará sendo tratado apenas dos filmes, não dos livros). Sim, inferior até ao anterior (Esperança – Parte um), pois este pelo menos foi melhor estruturado e teve melhor coerência narrativa e temática, explorando os impactos na população de todas as atitudes de manipulação da mídia, o que gerava cenas emocionantes de rebeliões e sacrifícios em prol de uma causa, não dos soldados rebeldes, mas da própria população que não estava na linha de frente da guerra (era possível observar claramente causa e consequência). Sim, a Parte Um foi chata, mas foi mais coerente e melhor estruturada, pois preparava terreno para o próximo filme. Mas poderia sim ser muito melhor, mais tarde este ponto será tratado. Dizem que a ação do último filme o fez ser melhor que o anterior, mas o anterior, mesmo sem ação conseguiu ter mais conteúdo.
Primeiro apontemos o que o filme tem de bom. Com certeza em aspectos técnicos, como direção, fotografia, atuação, efeitos, não há do que reclamar. Jennifer Lawrence está muito bem. A reviravolta no final, com a decisão da Katniss de deixar de lado seu objetivo de matar o presidente Snow e tomar aquela atitude ousada logo em seguida foi com certeza a melhor parte do filme. Uma boa ideia, mas e execução das circunstâncias do resto do filme até chegar ali não foi igualmente boa.
Sim, o principal defeito e erro foi terem dividido o livro em duas partes. Foi totalmente desnecessário. Ambos os filmes pareceram incompletos e carentes de uma estrutura melhor. Não li o terceiro livro, mas ouvi tanto opiniões positivas quanto negativas de conhecidos que leram, então não vou dizer que no livro deve ter ficado melhor ou pior. Antes que os fãs venham dizer que se ficou mal estruturado é porque dividiram em dois e no livro é perfeito porque é uma obra única, digo que isso não é desculpa. Peter Jackson pelo menos tentou compensar essa falta de conteúdo em O Hobbit (no primeiro até funcionou, mas nos demais não tanto).
Bom, então onde estou querendo chegar? Que mesmo que tenham dividido em dois era possível fazer dois bons filmes com começo, meio e fim. Simplesmente não seguindo à risca a obra original. Como foi falado, não é só porque funciona no livro que funciona no filme. Mídias diferentes pedem medidas diferentes. Sim, a intenção foi dizer que deveriam ter mudado o material original e acrescentado novos elementos, explorados mais situações, etc. Se no livro ficou bom, não importa, o que importa é o filme ficar bom, pois não é somente aos fãs que ele deve agradar, por isso existe adaptação. A decisão de dividir foi errada, mas do momento que fizeram isso, tinham a obrigação de entregar dois bons filmes. Peter Jackson errou não na tentativa, mas na execução com O Hobbit.
O que afinal tem de errado no filme? Voltarei a falar da estrutura torta dele. Não há começo meio e fim. Ele tem um começo lento, demora pra engrenar. E quando parece que engrenou, ele acaba. No livro as armadilhas na cidade deve ter sido o clímax, mas como no filme elas aparecem na primeira metade do filme, eram apenas a preparação para algo maior. Num roteiro deve haver uma crescente, com os desafios e problemas crescendo e se intensificando, até chegar ao ápice. Estruturalmente, o ápice que foi construído e deveria ter sido era a batalha na mansão de Snow, prometida desde o começo do filme, mas na hora que o clímax vai começar, o filme pula direto para o epílogo. A cena de Katniss disparando a flecha em Coin é curta demais para sustentar o clímax do filme inteiro. Deveriam haver uma “batalha final” sim, porque do jeito que fizeram ficou anticlimático. Até Crepúsculo se tocou disso (sim, Crepúsculo fez algo melhor que Jogos Vorazes. Se você não parou de ler aqui, parabéns, você não é um fanboy/fangirl intolerante) e presenteou o público com um combate final, pois o roteiro preparou o terreno o tempo inteiro para aquilo. No livro a Stephenie Meyer pula o confronto e resolve de maneira simples. O roteiro pedia algo, nem que fosse uma breve briga. E não adianta dizer que “crepúsculo não é um livro de ação, o foco é outro”, porque o roteiro construiu o terreno todo para isso. Não entregar pelo menos uma breve cena de ação foi um erro.
O mesmo acontece com A Esperança: O Final. Fica uma sensação de vazio e que tudo foi resolvido fácil. Não estou dizendo que Katniss deveria ter matado Snow. Pelo contrário, citei acima que a reviravolta no final e a morte de Coin foram ótimas ideias. Mas deveria haver um confronto, nem que breve antes de chegar ali. Mais para frente serão apresentadas ideias de como poderia ser.

Outro defeito são os personagens secundários mal explorados. Desculpe as fãs do Peeta, mas ele não faz NADA o filme inteiro. Nada de relevante. Atrapalhou um pouco e pronto. Katniss continuaria sua jornada de matar Snow mesmo sem ele ali. O foco todo fica no triângulo amoroso Katniss-Peeta-Gale (que pela primeira vez não serviu pra nada, diferente dos filmes anteriores), deixando quase nenhum tempo de cena para que os demais sejam trabalhados, tirando o peso que deveria ter a morte de alguns deles. E não, o casamento do Finnick não é trabalhar bem o personagem. Mesmo no próprio casamento ele não tem foco.
Até o Snow foi mal explorado. Enquanto nos primeiros filmes a presença dele é forte, aqui ele quase não aparece.
O final dado à Katniss também foi um defeito. Passar uma imagem frágil dela depois de tudo que houve não respeitou a personagem que vinha sido apresentada. Sim, eu sei que tudo o que a Katniss queria era apenas uma vida feliz com a família, mas havia outras maneiras de representar isso. Em vez de passar a impressão de uma dona de casa conformada por que não mostrar ela ensinando os filhos a usar arco e flecha assim como o pai fez com ela? Seria mais significativo e condizente.
“Mas esse filme é bom porque tem muita ação”. Leitores, essa é a lógica do povo que causa aquela bilheteria colossal nos filmes de transformers. 
“Ah, mas o filme e o livro se complementam, os defeitos que você citou são porque você só viu o filme, você deveria ler o livro para ver a obra completa”. Não, não é desculpa. Desta maneira é possível afirmar que você não pode desgostar de Justin Bieber sem ouvir todas as músicas de todos os álbuns e assistir o filme dele completo. Ou que você não pode julgar Star Wars sem assistir todos os filmes, as séries animadas, ler todos os livros, os quadrinhos e jogar os games.
Agora enfim passando para o título desta postagem: Como Jogos Vorazes: A Esperança - O Final poderia ter sido.
Já que citei que o defeito geral do filme foi a falta de criatividade e ousadia de mudar e criar cenas para melhorar a experiência da obra, fiquei pensando em alguma alternativa para apresentar e mostrar que ambas as partes poderiam ser melhor estruturadas e funcionar melhor de forma independente. Cheguei a uma possibilidade (pode haver vários outros jeitos, não estou dizendo que deveria ter sido assim, mas que PODERIA. Há outros caminhos).
O principal problema de ambas as partes é o clímax. Na parte 1 foi um pouco menos ruim, mas faltou mais ação no final, algo mais forte, mas de igual impacto em Katniss. A possibilidade que imaginei que poderia melhorar isto seria tomar um outro rumo naquela operação do final para resgatar Peeta. Quando a equipe de Gale chegasse, poderiam encontrar um Peeta mudado e perturbado, assim como na ideia original, mas Peeta poderia ter sido modificado não somente mentalmente, mas fisicamente. A Capital poderia ter feito experiências nele para deixa-lo mais forte, criar um soldado que representasse a Capital. A imagem de Peeta é relevante para a guerra, por isso a estavam usando durante o filme todo nas transmissões. Poderiam transformar o Peeta para a Capital ao equivalente que a Katniss é para os distritos.
Ao encontrar este Peeta transtornado e modificado, Gale e o resto do esquadrão tentariam trazê-lo de volta, mas ele começa a ataca-los e ocorreria um combate. Aí teríamos a cena de ação relevante do final. Neste combate, Peeta venceria cada um do esquadrão e enfrentaria inclusive Gale. Com Katniss presenciando tudo pela transmissão da TV. Então, no auge da luta, Peeta encurralaria Gale e o mataria. Então Peeta poderia virar para a câmera e dizer que Katniss seria a próxima. Isto seria condizente com a frase de Snow: “as coisas que mais amamos são as que nos destrói”.
E acabaria aí a primeira parte. Seria mais marcante e impactante, e sem dúvida mais corajoso. Deixaria Katniss com um tremendo conflito interno, ao ver o que Peeta se tornou e o fato de ele ter matado Gale. Causaria a mesma decisão e determinação dela de querer acabar com Snow.
Podem dizer que isso acabaria com o triângulo amoroso. Mas aí fica a pergunta: na trama cheia de assuntos polêmicos, crítica política e social, o triângulo amoroso era o mais importante? É isso que fazia a trama se mover? O mais importante da história era a dúvida de quem vai ficar com quem? E o Gale era tão indispensável assim para o resto da história? A única coisa relevante para que ele serve depois é ter parte da culpa na morte da Prim. Mas isso poderia ser apresentado de outra forma. No fim das contas, Katniss não escolheu, as circunstâncias tiraram Gale do caminho e ela ficou com Peeta. Gale era descartável nesta segunda parte.
E falando na parte dois, tratemos dela. Ela transcorreria de forma quase idêntica até a parte que invadem a Capital para chegar à mansão de Snow. Algo que faltou muito neste filme e que até então havia sido a base de Jogos vorazes foi: manipulação da mídia, opressão e interesses políticos. Neste filme quase não tivemos isso. Nos demais víamos causa e consequência. As decisões das pessoas importantes (seja Snow, os programadores dos jogos ou Katniss), o plano sendo colocado em prática e as consequências disso na população.
Neste filme temos os planos de usos da mídia e... só. Cadê as consequências? Os impactos disso na população? Aliás, cadê a população? Ela não foi mostrada em momento algum até a evacuação. Antes disso a cidade parecia totalmente deserta. Foi um susto perceber que havia pessoas ali, pois o filme inteiro mostrou o contrário. Essas consequências era um dos pontos altos nos filmes anteriores.
Antes da invasão é dito que o grupo de Katniss não estará na linha de frente da guerra, eles iriam atrás dos grupos que foram primeiro. Aqui se perdeu uma chance de dar mais dinamismo e conferir maiores proporções à guerra. Pois o tempo todos vemos APENAS o pequeno grupo de Katniss, enquanto poderia ter sido mostrado os outros grupos da frente avançando, deixando o espectador vivenciar a guerra, mostrar alguns soldados caindo em mais armadilhas espalhadas pela cidade.
Enquanto Katniss e seu grupo avançam, o próprio Peeta poderia aparecer alguma vez junto com os pacificadores para mata-la, com Katniss tentando trazê-lo de volta com palavras sem sucesso. E, claro, com ela e seu grupo conseguindo escapar.
Na parte da evacuação, Katniss poderia conseguir chegar à mansão de Snow enquanto o resto dos rebeldes são barrados na entrada na luta contra os pacificadores. Lá dentro, Peeta surge e luta contra ela, impedindo que ela chegue até Snow e mate-o. Este seria o clímax. Peeta e Katniss se enfrentando enquanto ela tenta matar Snow e trazer o amigo/ interesse amoroso de volta. Seria uma momento de muito peso, significado, relevância e catártico. 
Os possíveis desfechos seriam ela: a) matando Peeta depois de ver que não tem jeito; b) conseguir deixar Peeta inconsciente para tentar trazê-lo de volta com calma depois que tudo estiver resolvido; c) Peeta, num acesso de lucidez decidir se matar para não causar mal a Katniss e se redimir por ter matado Gale.
Após alguma dessas situações, o bombardeio planejado por Coin viria e o desfecho todo do resto do filme seria o mesmo. Exceto a parte que já citei de Katniss com os filhos.
E assim se encerra este longo texto. Novamente ressalto que PODERIA ser assim, além de outras formas que tornassem a experiência dos filmes mais completa e menos vazia. Não são apenas os fãs que devem ser agradados com a adaptação, mas o público em geral, então deixem dessa ideia de que todo filme tem que ser extremamente fiel ao livro.

A Saga Jogos Vorazes no cinema começou muito bem, mas se perdeu ao deixar de lado os elementos que a fez se destacar no meio de tantas séries de filmes juvenis da atualidade.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Avatar : A Lenda de Korra - Como estragar uma história e depois consertá-la (em tese)



Por Israel Guedes


Como o próprio nome sugere, Avatar : A Lenda de Korra é a série animada da Nickelodeon  que dá sequência à história de Avatar: A Lenda de Aang.

Ambientada 70 anos depois do antecessor, A Lenda de Korra  acompanha o Avatar depois de Aang: uma garota rebelde da Tribo da Água. Desde criança ela já domina os elementos terra, água e fogo. Agora precisa ir à Cidade República, metrópole onde receberá seu treinamento de dominação de ar de Tenzin, filho de Aang, o Avatar anterior, que deu fim à Guerra dos 100 anos.

Bryan Konietzko e Mike DiMartino criaram a série, que é dirigida por Joaquim dos Santos.

Com o grande sucesso de Avatar: A Lenda de Aang, seus criadores agora possuíam mais liberdade para ousar na próxima série, inclusive tratar de temas mais sérios, com uma ambientação mais madura. Possuíam também a difícil tarefa de dar continuidade ao sucesso de Aang e, quem sabe, superá-lo. Para tal foi optado por uma história totalmente diferente dos moldes de seu antecessor. Será que seus idealizadores estavam à altura do desafio?

Impressões Gerais

Sendo direto, a série tem muito altos e baixos. No quesito entretenimento ela cumpre seu papel, com uma história dinâmica, animação de encher os olhos e uma competente trilha sonora. Infelizmente as qualidades param por aí.

A história peca pelo fato de não passar de um entretenimento, pois é rasa, não apresentando uma mensagem ou objetivo. Há a falta de um único fio condutor unindo tudo. Os livros (como são chamadas cada fase) funcionam melhor isoladamente (o que não deveria acontecer). Deveria haver um ciclo, porém cada arco se concentra apenas em derrotar o inimigo da vez. Não temos sensação de unidade. Por mais que quisesse ter seus vilões de cada saga, deveria haver uma história maior por trás. Como isso não acontece tudo acaba soando superficial.

Como cada livro pareceu ser pensado individualmente, a seguir será feita uma análise de cada um deles.

Livro 1: Ar

Primeiramente, a sacada de transformar a personagem Korra e seus dilemas no exato oposto a Aang foi uma boa ideia. Trazendo algo de novo, pois, mesmo sendo uma continuação direta, não podemos apenas ver mais do mesmo.

Ao contrário do que muitos acham, não há motivo para apontar o fato de a trama estar presa à cidade República como um defeito, nem mesmo o ar moderno e tecnológico, que contrasta com o mundo em que Aang teve suas aventuras. Como foi falado, não pode ser mais do mesmo, pois 70 anos se passaram e novidades precisam ser apresentadas. Todos estes aspectos são bem explorados. O único motivo para desaprovar é devido à comparação com a série anterior. Assim como o clima mais sério e tenso não é um problema.

Até quase o final da temporada, a história se manteve muito bem, apresentando todo o contexto, os personagens e conflitos que deveriam ser desenvolvidos, ao mesmo tempo em que divertia e entretinha com as partes de ação.

Os personagens foram razoáveis, mas com poucos que realmente se destacam.

O romance apresentado foi prematuro e desenvolvido de forma afoita, tendo muito foco para algo que não era importante.

Korra não sofre nenhuma grande mudança. Não precisou passar por uma evolução ou mudar seu jeito para conseguir dominar o ar (fato que era enfatizado no começo), fazendo parecer que só o que faltava era uma situação de grande perigo, como tantas outras. 

O vilão Amon foi uma decepção. Um personagem de peso construído de forma competente que acabou perdendo a presença que possuía. O confronto final foi anticlimático, pois toda a ideologia de Amon a respeito de preconceito, opressão, que poderia gerar boas reflexões e conteúdo, foi jogada para o espaço e a história partiu para a ação seca.

Isto é algo que se repetirá nos próximos livros. A história sempre deixa claro que você não deve ir com a cara dos vilões, que não deve simpatizar com eles, mesmo que suas ideologias tenham alguma base boa. Se explorasse essa dualidade e fizesse os próprios personagens principais se indagarem do que é certo, as coisas funcionariam bem melhor, pois aparentemente a proposta é essa, mas nunca é desenvolvida além da superficialidade.

Korra recuperando sua dominação foi igualmente falho. Pareceu tudo tão fácil, um claro Deus ex Machina. Como falado, ela não precisou mudar para tal.  Seria bem melhor se a próxima fase da série fosse concentrada em sua busca para reaver as dominações perdidas. A história até mesmo deu a deixa perfeita para isso: a chave para recuperar as dominações poderia estar no mundo espiritual que é o foco do próximo livro.

Livro 2: Espíritos

Aqui A Lenda de Korra mostra o que tem de pior. 

Dá a impressão de que os responsáveis tomaram a decisão de fazer tudo ao contrário de A Lenda de Aang. Não seria ruim se isto não fosse aplicado também à estrutura narrativa, personagens, desenvolvimento, etc.

Por exemplo, um tema e desafio por livro; romance forçado desenvolvido às pressas; piadas excessivas nos momentos errados; preocupação e espremer muitos acontecimentos e reviravoltas em vez de se concentrar em poucas coisas e desenvolve-las com o cuidado necessário; múltiplos focos de narrativa que não acrescentam em nada à trama principal, e por aí vai...

Curioso como os espíritos, os quais deveriam ser fonte de sabedoria ou iluminação, no fim das contas não ensinam nada. Por que é tão pregada então a ação de se conectar com o mundo espiritual para adquirir sabedoria?

Ponto positivo do livro: conflitos familiares e política.

A melhor parte deste livro é a história do Avatar Wan, o primeiro de todos. E, coincidentemente, é a passagem que mais se assemelha ao estilo de A Lenda de Aang. Tal fato mostra que, pelo jeito, os autores decidiram se aventurar por um estilo que não é o forte deles e não conseguiram dominar, levando um tempo para a obra se encontrar, o que viria a acontecer nos livros seguintes.

Estruturalmente, este livro não é falho. Mas o fato de parecer uma aventura isolada tira parte da emoção, pois não sabemos onde a série está querendo chegar e parece que nem ela mesma sabe.

Em vez de tantas reviravoltas superficiais, deveria ter focado em menos coisas e as construído melhor, como o vilão, Unalaq. Ele aparenta ter uma causa nobre, assim como Amon possuía, e que também poderia ter sido trabalhada de modo digno, mas novamente foi deixada de lado, pois ele almejava poder e governar. Diferentemente do Senhor do Fogo em A Lenda de Aang, Unalaq não representava os pensamento de uma nação, nem mesmo conseguiu convencer ninguém com a falsa ideologia (nem a própria família) fora Korra, fazendo-o parecer apenas um louco solitário.

Neste livro Korra está menos marrenta, mas ainda não parece ter passado por grande mudança.

O romance continuou fraco. Não passa a emoção que deveria, parecendo mais uma novela mexicana com seu vai e vem.

O final com a luta de “Megazords” à lá Power Rangers foi triste. Não havia peso no confronto contra um vilão sem graça.

Livro 3: Mudança

Quem diria que as coisas poderiam melhorar.

Este livro chama atenção principalmente pelos momentos de ação, que em geral ficaram incríveis, com poucas exceções. Esta fase foi uma boa aventura.

Infelizmente o mundo espiritual perdeu totalmente o foco, sendo – juntos com os espíritos – usado como instrumento pela história. Na verdade toda a “magia” desaparece e “Mundo Espiritual” mais parece o nome de um zoológico, pois é só isso que se vê: vários bichos estranhos sem grande inteligência.

O maior foco na chefe Lin Beifong e seus conflitos familiares foi muito bem vindo, sem dúvida um dos pontos altos do livro. Dentre todos os personagens criados especialmente para A Lenda de Korra, é, sem dúvida, a mais interessante. E Mako, em contrapartida, definitivamente é o pior personagem. Sem graça, personalidade fraca, só possui relevância quando está nas suas idas e vindas no romance com Korra. 

Infelizmente os vilões continuam fracos (não conseguem fazer o publico torcer por eles com suas motivações inconsistentes) e os demais personagens sem evoluções notáveis.

O clímax foi mediano, mas a consequências dele foram bem vindas. O clima de desesperança com que o livro acabou, com Korra debilitada foi forte e tocante. E aqui há uma boa homenagem à Lenda de Aang que fãs de longa data irão gostar.

Livro 4: Equilíbrio

Com certeza o melhor dos 4.

O livro mais bem executado, com narrativas paralelas melhores e relevantes, personagens tomando mais atitudes por si mesmos, muitas vezes discordando uns dos outros.

O conflito de Korra é muito bom, mas depois que passa, novamente ela volta a ser a mesma de antes. Além disso, ela não ficou com sequela alguma dos eventos finais da fase anterior. Por que passou por tudo aquilo então?

A volta de Toph (personagem importante de A Lenda de Aang) sem dúvidas é uma das melhores coisas da temporada, roubando a cena sempre que aparece.

Por algum motivo, mesmo com uma guerra acontecendo, não há perdas significativas (não só neste livro, como na história inteira), o que acaba tirando qualquer sensação de perigo. Sim, houve uma morte no meio disso tudo, mas de alguém sem muita relevância.

Kuvira consegue ser uma vilã até competente e o confronto final é satisfatório.

A fatídica cena de encerramento polêmica não foi ruim. Já havia discretos indícios e fez sentido dentro da história.

A história se encerra, mas não é possível sentir o fechamento de um ciclo, pois não há uma história de fundo ligando tudo. Tal fato que poderia ser resolvido com o realojamento do Livro 2 para o fechamento da história, pois foi o que mais teve relação com a própria Korra e seu destino de Avatar. Claro que certas mudanças seriam necessárias, como construir melhor o vilão Unalaq e não concentrar todos os acontecimentos deste arco em um livro só, mas sim espalhado pelos demais arcos, dando mais a sensação de conexão e unidade.

Conclusão

As restrições a que os criadores da série estavam presos no desenho anterior aparentemente era o freio que impedia que o trem ficasse desgovernado. Com tanta liberdade as coisas acabaram sem rumo.

É uma pena que a Lenda de Korra não alcançou o padrão esperado, pois é cheia de conceitos e ideias muito boas. Felizmente, ela conseguiu se recuperar em seus momentos finais, mas fica a dúvida no ar:

Será necessária mais alguma lenda?

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Resenha: Operação Big Hero



 Por Kássia Campos e Israel Guedes


Após o sucesso gigantesco de Frozen, a Walt Disney tinha o desafio de fazer um sucesso tão estrondoso quanto. Em menos de um ano, o que pareceu ser algo impossível, tornou-se palpável para os produtores de Operação Big Hero.

A parceria com a Marvel atraiu não só crianças que gostam de animação, como os fanáticos e admiradores de quadrinhos, dando assim um contraste interessante nas salas de cinema por todo mundo.

Baseada em uma HQ menos conhecida da Marvel, a história gira em torno de Hiro Hamada (Robson Kumode), um garoto gênio de 13 anos apaixonado por robótica que fabrica autômatos para participar de lutas clandestinas de robôs. Cabe a seu irmão mais velho Tadashi (Daniel Henney) tirá-lo das confusões. Conhecendo o grande potencial de Hiro, Tadashi leva-o até seu laboratório da universidade de tecnologia de São Fransóquio (mistura de São Francisco e Tóquio), e lá apresenta seus colegas: a veloz Go Go Tomago (Kéfera Buchmann), o fanático por organização Wasabi (Robson Nunes), a especialista em química Honey Lemon (Fiorella Mattheis) e o fã de quadrinhos Fred (Marcos Mion). É neste momento que conhecemos também Baymax, invenção de Tadashi, um robô-enfermeiro que reconhece problemas de saúde ou psicológicos e faz de tudo para curá-los.

Interessado na universidade, Hiro precisa fazer a apresentação de uma grande invenção para conseguir se matricular. Porém, uma tragédia acontece no dia da exposição de invenções. Ao descobrir que tudo fazia parte do plano de um vilão mascarado que estava atrás de sua invenção, Hiro se une ao carismático robô Baymax e aos amigos de seu irmão para dar um fim às intenções do malfeitor.


Mesmo com um enredo não tão inovador, tem um bom desenvolvimento, arrancando dos espectadores desde risadas até mesmo lágrimas, ao tratar de perdas e do valor da amizade, explorando a relação do protagonista Hiro Hamada e o robô Baymax, focando no desafio do garoto de amadurecer diante das adversidades que surgem em sua vida, agindo em muitos momentos como nós mesmos reagiríamos.

Baymax é uma atração à parte, esbanjando carisma e fofura (até além do limite, o que talvez incomode alguns), que, apesar de não possuir sentimentos, cativa por seu jeito doce e zeloso.

Infelizmente a cidade fictícia em que a história acontece é pouco explorada, pois havia muito potencial na mistura de culturas, que acaba abordada superficialmente. 

Outro aspecto pouco desenvolvido é a participação dos amigos de Hiro e Tadashi, que estão ali apenas como ferramentas da história para fazer o expectador rir (apesar de alguns exageros) e se empolgar com as boas cenas de ação, com animação e direção dignas de um filme Disney, trazendo ao público um bom entretenimento que, apesar de poder ter sido ainda mais do que foi, mostra que com uma boa motivação, instrumentos certos e bons amigos, podemos chegar longe.


Sendo assim, Operação Big Hero teve seus pontos positivos e negativos, mas que, reforçou sim, a nova identidade da Disney, que vem trazendo filmes com premissas diferenciadas, sem perder a qualidade de seus lançamentos.